Quando conversei com James Wan em 2004, esse ilustre jovem cineasta malaio colocou na tela dos cinemas do mundo uma das ideias mais inovadoras e violentas já vistas, com Jogos Mortais. O sucesso dessa obra, que custou pouco mais de 1,5 milhão de dólares, não é medido apenas pelo seu faturamento mundial de pouco mais de 100 milhões de dólares. Mas por revelar ao mundo um jovem talentoso com muitas ideias para concretizar.
Wan foi o responsável por concertar o piloto da nova versão de MacGyver – Profissão: Perigo e transformar Aquaman, um herói da DC Comics, num campeão de bilheteira que superou a marca de 1 bilhão de dólares. Seu sucesso, contudo, vem de sua criatividade ao explorar situações e gêneros que o cinema de Hollywood esqueceu. E claro, ter mais do que um milhão de dólares para contar suas histórias.
O curioso é que James Wan decidiu mergulhar no sobrenatural, influenciado pela religião católica. Ele criou pelo menos duas franquias interessantes relacionadas com fenômenos paranormais. A primeira delas foi Sobrenatural (Insidious/2010), sobre a luta de uma família contra espíritos malignos que querem manter seus filhos presos numa outra dimensão. A melhor delas, na minha modesta opinião, é Invocação do Mal (The Conjuring).
O motivo do favoritismo é o fato de Wan se basear na história real do casal Ed e Lorraine Warren, feito com uma perfeita química por Patrick Wilson e Vera Farmiga. O casal é conhecido por lidar com fatos relacionados a atividades paranormais, possessões demoníacas e outros fatores sobrenaturais. Wan pegou vários dos relatos dos casos dos Warren para criar o filme de suspense sobrenatural mais verossímil desde O Exorcista (1973), com os filmes Invocação do Mal.
Em Invocação do Mal, lançado em 2013, conhecemos a família Roger e Carolyn Perron, interpretados por Ron Livingston e Lily Taylor, que acabaram de se mudar para uma antiga fazenda no interior de Rhode Island, em 1971. Aos poucos, o casal começa a notar estranhos acontecimentos que podem ter alguma relação com o passado daquele lugar. Algo sobrenatural. Com medo de que algo pudesse machucar sua família, eles entram em contato com Ed e Lorraine, que passam a investigar o que poderia estar nos cantos mais escuros e sinistros da casa.
A tensão vai crescendo a cada cena, revelando para o público que o Mal está agindo para violentar toda a família Perron, de formas além da imaginação. O interessante da história é que ela começa avisando que tudo é baseado em fatos que aconteceram naquele lugar. Os Warren descobrem que toda aquela área está infestada com uma presença demoníaca que quer muito mais do que a alma dos Perron. Assim como num bom mistério policial, a revelação das pistas sobre o passado do lugar ajuda o casal a enfrentar essa força maligna.
O filme, além de resgatar bons momentos do terror psicológico, como no já citado O Exorcista, mostra como uma história baseada em realidade pode se transformar num excelente filme de horror moderno. Tanto que Patrick e Vera foram conhecer Lorraine Warren antes das filmagens começarem. Sem contar que o casal Perron visitou o set de filmagem a convite dos produtores.
Já no filme seguinte, lançado três anos depois, a história avança no tempo, chegando a uma simples casa no subúrbio de Londres, onde conhecemos Peggy Hodgson (Frances O’Connor). O ano é 1977, e Peggy, mãe solteira, luta para cuidar de seus quatro filhos, quando sua filha mais velha, Janet (Madison Wolfe), começa a apresentar um comportamento sinistro, como se estivesse possuída por algum demônio.
Do outro lado do Atlântico, em sua casa em Connecticut, Lorraine tem uma visão de uma entidade maligna que deve estar relacionada com o caso de Londres, o qual foi contactado pela própria Peggy. Na realidade, essa figura sombria está relacionada com outro personagem do universo administrado por James Wan, protagonista do filme A Freira (2018). O filme também mostra o estranho museu de peças sobrenaturais que os Warren mantêm em casa para estudos. Uma das peças é a boneca de porcelana exibida no filme Annabelle, de 2014. Mas isso é outra história assustadora.
O diferencial dessa história para a primeira “aventura” dos Warren é que a entidade maligna que está possuindo a jovem Janet sabe da existência do casal e fará de tudo para que eles não se intrometam em seu caminho. Como o caso ganhou muita notoriedade na época, quando Ed e Lorraine chegam à casa de Peggy, uma equipe de documentaristas quer registrar o que aconteceu. Aliás, trechos dessa filmagem e da conversa que a possuída Janet teve estão registrados no final de Invocação do Mal 2. A cena do confronto entre Lorraine e Janet é épica.
Até a chegada do terceiro filme em 2021, James Wan soltou a criatividade não apenas no cinema de suspense e horror com as continuações de Annabelle, Sobrenatural e A Freira, como também com as séries O Monstro do Pântano (2019) e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2021). Sem contar a parceria que iniciou com Michael Chaves, que dirigiu as produções assinadas por James Wan, A Maldição da Chorona (2019), Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio (2021) e o inédito Invocação do Mal 4 – O Último Ritual, previsto para estrear ainda neste semestre.
Esse terceiro filme é considerado o mais realista por ser baseado no caso de Arne Cheyenne Johnson, condenado por matar o senhorio de sua casa em 1981. O caso ganhou repercussão nacional quando a defesa alegou possessão demoníaca para libertar Arne. Uma história que vai colocar o casal Warren contra as forças das trevas. A história foi baseada no livro O Diabo em Connecticut, publicado em 1983, escrito por Gerald Brittle, com a ajuda da própria Lorraine Warren. A conhecida paranormal faleceu em abril de 2019, aos 92 anos, trabalhando como consultora da produção da franquia.
Mesmo considerado um excelente filme de horror, tenso em todos os sentidos, com direito a muitos sustos, ele sofreu por ter sido lançado no meio da pandemia de covid-19. Ainda assim, o sucesso ajudou a consolidar a franquia no streaming, garantindo que Invocação do Mal ultrapassasse os 2 bilhões de dólares de faturamento nos cinemas do mundo inteiro.
Enquanto os fãs do casal Warren aguardam setembro para ver o quarto filme, Invocação do Mal – O Último Ritual, a Warner Bros. resolveu fazer uma maratona com os três filmes iniciais para ajudar aqueles que ainda não foram “possuídos” pelas forças lideradas por Ed e Lorraine Warren, que lutam contra o Mal encarnado, a conhecer as histórias reais desse casal. A trilogia volta aos cinemas em 21/8/25.
Você pode não acreditar no que se passa nas três histórias. Lembre-se de um velho adágio popular de que a grande arma do Diabo, o criador do Mal, é passar a mensagem de que ele não existe… Sei!

Um comentário sobre “Crítica | Trilogia | Invocação do Mal”