Crítica | Filme | Dia de Caça

Crítica | Filme | Dia de Caça

Em 1961, Robert A. Heinlein escreveu uma curiosa história sobre um homem criado até a idade adulta no planeta Marte e que, depois, foi devolvido à Terra. Um Estranho numa Terra Estranha mostrava o que acontece quando somos tirados de nosso ambiente natural e obrigados a sobreviver em um lugar completamente diferente.

É o que ocorre com Nina (Nahéma Ricci), uma garota de programa que acaba indo parar em um ambiente estranho com pessoas ainda mais estranhas. Ela é a personagem central de Dia de Caça, longa da diretora estreante Annick Blanc. O título faz referência a uma festa organizada por um grupo de amigos que passam um final de semana em uma cabana de caça, onde realizam uma despedida de solteiro.

Em determinado momento do filme, parece que todos se tornam presas de seus próprios desejos involuntários. Tudo começa com a chegada de Nina à cabana, levada por um “amigo”, Kevin (Frédéric Millaire-Zouvi). Logo, a relação entre eles se estabelece como a integração de um lobo à matilha, com imposição de penalidades diante de qualquer deslize.

Já inserida no grupo, Nina sai no dia seguinte para caçar, vivendo seu batismo de fogo. Nesse mesmo dia, tudo muda de rumo quando Kevin retorna com outro perdido na mata, Doudos (Noubi Ndiaye). Esse grupo, unido por uma rebeldia sem causa e ideias movidas a drogas, começa a adotar atitudes provincianas, como se tivesse total domínio do poder de uma arma. O que parecia uma simples reunião de amigos está prestes a se transformar em um pesadelo, em que a realidade criada pelas reações daquele momento pode incendiar a frágil chama das boas intenções.

Graças a um estilo de direção que manipula sutilmente as emoções dos personagens, Dia de Caça explora conceitos — às vezes arcaicos — de masculinidade, dinâmica de grupo, hierarquia social e como tudo isso pode ruir quando confrontado com a própria natureza humana.

Disponível no Looke, o filme conquistou o respeito da crítica internacional, recebendo prêmios e menções honrosas. Alguns críticos canadenses descrevem Dia de Caça como uma viagem alucinante e imprevisível que equilibra humor e terror, incorporando drogas, sonhos e elementos visuais surreais. Para mim, é a história de dois estranhos que embarcaram em uma viagem e descobriram que não havia lugar reservado na janela para conhecer uma terra ainda mais estranha.

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