Tem um diálogo muito interessante no filme Constantine, estrelado por Keanu Reeves e Rachel Weisz, de 2005. Constantine e Ângela estão caminhando à noite e discutindo sobre a existência do Mal, de Deus e o Diabo. Deixando de lado qualquer nuance filosófica, a conversa segue para um final definitivo, quando Ângela, uma policial cética sobre questões ligadas ao Céu e ao Inferno, ouve de Constantine que os seres humanos são capazes de fazer coisas terríveis. Mas, às vezes, alguém dá um empurrãozinho para a direção de algo errado. Ela retruca: “Bem, isso foi muito educativo, mas… eu não acredito no diabo”. E Constantine fecha seu raciocínio dizendo: “Você deveria. Ele acredita em você!”
Ao longo de mais de cem anos da história do cinema, a eterna briga entre o Bem e o Mal tem sido palco de incontáveis produções, com níveis variados de suspense e terror. Principalmente no final do século 20, quando o cinema começou a ser mais explícito no duelo entre o Céu e o Inferno pela alma dos mais puros. Foi assim com O Bebê de Rosemary (1968), O Exorcista (1973), A Profecia (1976), Coração Satânico (1987), O Advogado do Diabo (1997), só para citar alguns dos mais impactantes.
Em 2013, o jovem cineasta James Wan dá início a uma saga sobrenatural baseada em relatos reais do casal Ed e Lorraine Warren, conhecidos personagens de Invocação do Mal. O casal de estudiosos religiosos realizou, entre as décadas de 60 e 80, diversas investigações sobre atividades paranormais ocorridas em várias cidades americanas e até no Reino Unido, tema explorado no segundo filme lançado em 2016. Os três filmes da franquia (já analisados aqui nos CriCríticos) apresentavam casos em que pessoas comuns eram levadas a atos violentos e mortais, pela interferência de demônios.
O que chama a atenção neste quarto episódio na vida dos Warren é a intensidade da trama. Não apenas focada na devastação que uma entidade maligna causa a uma família do interior da Pensilvânia, mas como essa história tem ligação direta com a vida da própria família Warren, após o nascimento de sua filha Judy. A garota nasce após uma investigação malsucedida de Ed e Lorraine em uma casa que possui um antigo espelho emoldurado, que tem ligações com entidades sobrenaturais malignas.
O tempo avança para o ano de 1986, quando conhecemos a família Smurls, de West Pittston, no interior da Pensilvânia. No aniversário de 15 anos de sua filha mais velha, os avós dela lhe presenteiam, claro, com o mesmo espelho amaldiçoado. Aos poucos, os membros começam a ver e sentir a presença de entidades sobrenaturais que querem, sem qualquer dúvida, fazer o mal para os Smurls.
Há centenas de quilômetros dali, Ed e Lorraine recebem a notícia de que Judy virá para a festa de aniversário do pai, trazendo o namorado, o ex-policial Tony. No antigo quarto, Judy tem uma visão da boneca Annabelle, um brinquedo demoníaco, que faz parte da franquia criada por James Wan. O filme revela que Judy, desde sua infância, vê entidades sobrenaturais como sua mãe, mas desenvolveu uma forma de conter suas visões. Ao mesmo tempo, as notícias sobre a casa dos Smurls ganham os noticiários, chegando até Ed e Lorraine.
O problema é que Lorraine não quer se envolver com qualquer outra investigação, desde que Ed quase morreu no trabalho anterior, visto em Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021). Mas os problemas da família da Pensilvânia batem à porta dos Warren, quando uma pessoa do passado, ligada ao trabalho de Ed e Lorraine, acaba sendo morta enquanto estava investigando o caso.
Não é difícil imaginar o que vai acontecer quando a família Warren decidir enfrentar todos os seus demônios internos para lutar contra as criaturas sobrenaturais que infernizam a vida dos Smurls. O clima de suspense e terror acompanha cada passo dado dentro da pequena casa de West Pittston, com uma batalha quase épica entre as forças do Bem e do Mal.
Pode baixar a guarda achando que o filme tem seu pé no maniqueísmo clássico. Tem, sim, e é necessário para entender a obra como um todo. Principalmente porque é baseado em relatos de fatos que aconteceram com Ed, Lorraine e Judy nos anos 80. Não existe meio-termo na luta contra as trevas, como a história mostra até seu último minuto.
E também não tente entrar nos comentários mais cartesianos sobre o primeiro filme ser melhor que o segundo, o terceiro a história assustar mais do que a primeira, etc. São filmes diferentes, com histórias diferentes, terrores diferentes. O único ponto em comum é o trabalho da família Warren, cujos relatos oficiais são descritos no final de cada um dos filmes.
Como foi concebido para ser o último filme relacionado com o trabalho de Ed e Lorraine, Invocação do Mal 4: O Último Ritual traz para os fãs algumas cenas memoráveis relacionadas com os casos dos filmes anteriores. Muito mais do que um filme de terror e suspense, esse derradeiro momento dos Warren é um filme sobre família e o desafio de enfrentar o desconhecido para garantir um futuro melhor.
E é provável que, por esses pequenos momentos emocionais, Invocação do Mal 4: O Último Ritual tenha sido reconhecido como uma bela homenagem aos guerreiros que enfrentam qualquer adversidade para combater o Mal em sua essência. Amém! Estreia em 4/9 distribuído pela Warner.
