Não seu se fui apenas eu, mas a série Black Rabbit, disponível na Netflix, valeu seus oito episódios. Porque não consegui sacar com antecedência para onde a história dos irmãos Friedken (personagens de Jason Bateman e Jude Law) iria. O que é bom.
Sem usar revelações bombásticas, reviravoltas ou detalhes que somente o VAR viu, o criador e coroteirista Zack Baylin (King Richard: Criando Campeãs) prende a atenção em um clima de suspense e com dose generosa de drama.
À medida que eu avançava os episódios fui identificando Black Rabbit com o filme Depois de Horas (After Hours, 1985), de Martin Scorsese. Sabe aquele dia longo, que nunca termina, quando um monte de coisas vai dando errado? Black Rabbit é meio isso, só que vezes oito. Aliás, não sei vocês, mas aqui nas minhas cercanias ainda usamos a expressão After Hours quando esse quadro se repete…
Bem, voltando ao drama de Vince (Bateman) e Jake Friedken, o espectador vai construindo a trajetória deles aos poucos, no decorrer dos episódios, com direito a uns flashbacks, pontos de vista diferentes para um mesmo fato e boas interpretações esparramadas pelo elenco principal. Destaque para os protagonistas, que ainda dividem a produção executiva, sendo que Bateman ainda se arrisca na direção de dois episódios. O ator ainda teve a oportunidade de ser dirigido pela atriz Laura Linney, parceira de Ozark, em outros dois. A título de trívia…
E como contar um pouco da história para vocês? Difícil sem puxar o fio da trama, mas vamos lá. O Black Rabbit é um restaurante badalado de Nova York, hoje administrado por Jake, mas que no passado nasceu e cresceu a partir da iniciativa de Vince. Em algum momento, Vince perdeu o rumo e o brilho nos olhos para fazer as “coisas certas” e deixou a cidade. Tempos depois, ele retorna à Big Apple tentando um recomeço apesar de suas dívidas com o passado. Literais e metafóricas.
Acho que as situações que irão se apresentar aos Friedken no evoluir da história apenas ajudam a delinear toda a angústia que cerca a vida dos irmãos, que aparentemente nunca lavaram suas roupas sujas. Quem nunca, não é verdade? É aí que entra o clima After Hours, deixando-os cada vez mais distantes desse balanço.
Assim, tirando todas as situações com as quais eles têm que lidar, o que deve sobrar aos olhos do espectador é o relacionamento humano. Dos dois, deles com a família, deles com o mundo. E é possível tirar bom proveito do saldo final da série. É só imaginar que essas situações são o glacê do bolo e que elas poderiam ser substituídas por outras. Claro, são elas que mexem com os sentidos do espectador, conduzindo-o para o clímax mansamente, ainda que de forma nervosa. Mas nada me pareceu óbvio.
Acho que se você der uma chance para Black Rabbit, vai terminá-la rapidinho. Sem gosto de quero mais ou de “meu prato veio errado”!
