Não imaginava que a franquia Monstro, da Netflix, ainda pudesse atrair minha atenção. Já tinha ficado um tanto impressionado com Dahmer: Um Canibal Americano (2022), muito mais pela atuação de Evan Peters do que propriamente pela saga do serial killer Jeffrey Dahmer.
Senti uma quedinha na voltagem quando o mesmo Ryan Murphy alçou voo com Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais (2024), uma história, digamos mais contemporânea. Aliás, que beleza esse título, hein?
Com Monstro: A História de Ed Gein, a voltagem voltou a subir, acredito eu, muito devido ao trabalho de Charlie Hunnam como o assassino em série convidado desta vez. Creio que o termo sequer existia quando o Açougueiro de Plainfield foi detido pela polícia americana. Fica a dica: quem quiser entender melhor como o FBI se estruturou para desvendar os primeiros casos de assassinatos em série dos EUA, confira a série Mindhunter, também da Netflix.
Não por acaso, ela é referenciada em Monstro: A História de Ed Gein, afinal, Ed foi um tipo de consultor para o departamento do FBI responsável por desenvolver o perfil psicológico desse tipo de matador. Está tudo explicadinho, tanto em Mindhunter quanto em Monstro: A História de Ed Gein.
Assim, vamos começar falando o porquê de tantas referências a outros filmes nessa nova temporada de Monstro. A razão é que Ed Gein foi cultuado nos EUA até sua morte natural, ocorrida em 1984. Tanto pelos curiosos mórbidos (lembrem-se, there is no better news than bad news), quanto pelos desajustados que ainda aguardavam em seus casulos para eclodirem em metamorfose, alimentando o concorrido noticiário “espreme-sai-sangue”.
Ryan Murphy soube aproveitar muito bem essa faceta da “carreira” de Gein, criando narrativas paralelas para lembrar como ele inspirou o livro (e depois o filme) Psicose, o longa O Massacre da Serra Elétrica (1974) e até mesmo o Búfalo Bill de O Silêncio dos Inocentes (1991). Tudo fica bem amarradinho e, caso tenha deixado passar alguns desses, bem provavelmente vai querert vê-los depois de assistir a Monstro: A História de Ed Gein.
E essa história também inspirou/motivou, como já disse, outros psicopatas hibernantes, como Richard Speck, Jerry Brudos e Ted Bundy. Que, pelo menos na série de Ryan Murphy, reverenciam Gein como fonte de inspiração.
O próprio Gein, contudo, não parece ser o tipo de assassino motivado a matar, matar e matar, como o Zodíaco. Seu gosto pela necrofilia, sim, causou espanto e curiosidade. Tanto que as mortes que lhe foram imputadas são poucas frente o currículo da galera que veio depois. Por isso (na verdade, por conta de sua esquizofrenia), Ed cumpriu reclusão em instituições para tratamento mental, não em presídio de segurança máxima. Supostamente, sua forte ligação com a mãe autoritária e castradora (quase que literalmente!) o motivou a buscá-la dentro de si mesmo. Somada a desejos sexuais tremendamente reprimidos e certa deficiência intelectual, chegamos às máscaras e roupas de pele humana que o alegravam.
Sim, mórbido pacas! Como o Maníaco do Parque ou o Chico Picadinho. Mas essa franquia é sobre isso, não? Embora Ryan Murphy tenha conseguido um produto final que vai além do que o noticiário policial adora. Com méritos também para a transformação impressionante de Charlie Hunnam.
