A minissérie da Globoplay, Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem, presta justa homenagem, ainda que um tanto tardia, a um dos maiores comediantes da história do Brasil. Sem questionamento. O humor de Chico Anysio talvez não impactasse o público nos dias de hoje da mesma forma como fez no passado, sob acusação de datado e impoliticamente correto.
Essa é uma discussão super válida, porém, inconclusiva. O que mais importa no momento são os fatos sobre a carreira de Chico e isso o documentário oferece de sobra. Sem ser chapa branca, como desejou o diretor da produção, Bruno Mazzeo, filho do humorista e também ator/comediante.
E os fatos são inegáveis. Chico Anysio conseguiu contribuir para o avanço da programação do rádio brasileiro e, mais tarde, também da televisão aberta. Na verdade, ao lado de amigos/colaboradores como Boni e Daniel Filho (que tal?), tomou conta da TV aplicando na telinha muito do que fez em rádio. E ao lado de uma geração talentosíssima para o humor.
Ou seja, gerou humor como ninguém via uma longa lista de personagens e um olhar social crítico. Alguns com existência compravada, outros sem registros para a posteridade. Isso em nada pesa no que afirmei no começo do texto: realmente trata-se de um dos maiores comediantes da história do Brasil.
Para ser neutro e não ferir os sentimentos do leitor que prefere um Jô Soares, por exemplo. Eu, particularmente, prefiro os dois e outros tantos que me fizeram rir ao longo das décadas. Mas que ninguém se engane. Não me abraço à nostalgia para soltar o clássico “não se faz mais humor como antigamente”!
Ao contrário, abraço tudo que tem aparecido desde que Jô e Chico (apenas para manter o exemplo) passaram a encarar a concorrência. Concorrência essa que, de uma maneira ou de outra, pelo bem ou pelo mal, bebeu nessas fontes para aprimorar novos estilos de humor. Refiro-me à MTV, ao Casseta & Planeta Urgente, Porta dos Fundos e outros tantos.
O documentário, por exemplo, lembra da rusga entre Chico e a Globo por conta do TV Pirata, programa de humor que revolucionou a programação da rede e que foi criado por membros do Planeta Diário e da Casseta Popular. Aliás, talvez o grande público prefira conhecer (ou rever) essa e outras mazelas da vida de Chico, inclusive, nem todas presentes na produção.
Vão lembrar do relacionamento com Zélia Cardoso de Mello, polêmica ex-ministra do governo Collor. Ou dos seus vários casamentos… Ou do fato de Chico ser um big spender e ter morrido com dívidas.
Eu prefiro me ater ao belo relato histórico que monta parcialmente o panorama do entretenimento (termo que só seria usado tempos depois) em rádio e televisão a partir de meados do século passado. Se Bruno pensou em contar essa história misturada à história do próprio pai, diria que foi bem-sucedido. Os depoimentos colhidos são enriquecedores, não apenas para se conhecer um pouco dessa história, mas também um pouco mais da persona Chico Anysio. E também emocionantes.
E nem precisa ser crítico para notar isso. Basta ter humanidade.
