Jessica Chastain mais uma vez mostra que é capaz de interpretar com a mesma competência personagens que vão da simplória Celia Foote em Histórias Cruzadas (2011) à implacável Maya de A Hora Mais Escura (2012) com outras tantas personagens entre uma e outra. Em Sonhos ela é Jennifer McCarthy, a diretora da uma fundação que leva o nome de sua família. Rica, sofisticada, culta, Jennifer vive entre bons restaurantes, estreias de balé, vinhos caros, lugares bem decorados, motoristas particulares e tudo o que é comum para os muitos ricos.
No comando do figurino, Mitchell Travers, com quem Chastain trabalhou em Os Olhos de Tammy Faye, frequentemente veste Jennifer de branco. Uma cor difícil, evitada por qualquer pessoa comum pela facilidade com que demonstra qualquer sujeira, retrata bem o quanto de privilégio cerca Jennifer em seu trânsito entre sua bela casa em São Francisco e sua outra bela casa no México. No país ao sul da problemática fronteira dos Estados Unidos, a Fundação McCarthy tem uma escola de dança.
É na escola que Jennifer conhece Fernando (Isaac Hernández), um talentoso jovem bailarino. O encontro acontece antes do início do filme, que já nos mostra Jennifer e Fernando envolvidos em algo que poderia ser um romance que enfrenta tudo e todos pelo final feliz, mas se desenvolve para caminhos inesperados e chocantes.
Disposto a arriscar tudo, Fernando imigra ilegalmente para os Estados Unidos. Disposta a sexo com um homem mais jovem, Jennifer não mostra a mesma disposição para tornar o relacionamento visível à esfera em que vive. Mesmo com a constante atividade no México, ela usa um app de tradução mesmo para as interações mais simples. Consciente, a mãe de Fernando vê a interação pelo que é e manda a americana procurar alguém da mesma idade.
É um cenário de preconceito em diversos níveis que evolui para a crueldade. Jennifer é calculista, hipócrita em seu interesse pelos imigrantes, não há dúvidas de que prefere manter Fernando no “lugar dele”. A resposta do jovem dançarino é inesperada, tão dura de engolir quanto a crueza das cenas de sexo, ao mesmo tempo compreensível, assim como o ato final de Jennifer.
Compreensível e esperado. O que não quer dizer que seja aceitável. Estreia em 30/10 distribuído pela Imagem Filmes.
