Crítica | Filme | Éden

Crítica | Filme | Éden

Como é de costume, fico de olho nas listas dos filmes mais vistos no streaming. Seja por hábito da profissão, seja porque estou sempre na busca por novidades. E Éden, longa disponível no Prime Video, chamou minha atenção pelo seu bom ranqueamento e, claro, pelo elenco de primeiríssima linha.

Falamos de Jude Law, Ana de Armas, Daniel Brühl, Vanessa Kirby e Sydney Sweeney. Sob a batuta do experiente Ron Howard, também co-autor do roteiro. Já é suficiente para arriscar, não?

Contudo, quem espera em Éden um cinemão tradicional de Howard, como em Uma Mente Brilhante e Apollo 13, esteja avisado que o tema central é muito mais introspectivo do que aparenta. O filme se passa nos anos 1930, quando um casal (Sydney e Daniel) e seu filho desembarcam na isolada Ilha Floreana, em Galápagos. Após a Primeira Guerra Mundial, muitos europeus decidiram abandonar as incertezas geopolíticas do Velho Continente pela utopia de uma vida mais simples, onde o principal desafio era obter água e comida.

O casal se junta a outra dupla (Vanessa e Jude), habitantes de Floreana há mais tempo, sem serem bem recepcionados, no entanto. A tensão da ilha aumenta com a chegada do grupo de uma baronesa (Ana), que ganhou o direito de construir um luxuoso hotel no local.

Mesmo certos de terem deixado para trás a civilização, os habitantes não abandonaram sua cultura impregnada de vícios e de ego, o que tensiona o clima em escala sem precedentes.

A história de Éden é mais do que um simples drama. Ela combina elementos de filosofia e dilemas existenciais e oferece ao espectador uma reflexão sobre moralidade, escolhas e os limites da própria natureza humana. A narrativa é bem acessível, mas profunda. Garanto que se fosse uma produção europeia a densidade e a sutileza seriam bem maiores.

O filme usa cenários pensados para refletir a atmosfera de cada fase da jornada dos personagens. Apoiado principalmente por uma fotografia que fala por si só. É nessa amarração bem feita que notamos a mão de Howard, como disse, dominador da arte do chamado cinemão.

Mas penso que muita gente vai achar Éden não muito fácil de deglutir. E é por aí mesmo, afinal, o filme é baseado em fatos reais, narrados por diferentes personagens, que oferecem diferentes visões para tudo que aconteceu naquela ilha. E por muitas vezes, a verdade tende a chocar mais do que a ficção pura. Porque a verdade está ali, na nossa cara, embora nem todos queiram vê-la.

Falar mais pode estragar. Se conselho fosse bom, ninguém dava de graça, certo? Mas deem uma chance para Éden botar sua mente para funcionar. Porque, passados quase 100 anos desde os acontecimentos em Floreana, vemos que pouco mudou na natureza humana.

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