Não é fácil escrever sobre um personagem que não era uma franquia quando foi idealizado. O alienígena assassino de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e o caçador alienígena de Predador (1987), criaturas assustadoras de dois grandes momentos do cinema, só começaram a se tornar um esboço de franquia anos depois do lançamento de seus filmes iniciais. James Cameron criou uma violenta luta pela sobrevivência em Aliens – O Resgate (1986), enquanto Predador 2 – A Caçada Continua (1990) tirou a ação da selva colombiana para as violentas ruas de uma Los Angeles distópica.
Só depois dessas duas continuações a Fox acreditou que os dois monstros espaciais poderiam garantir mais sucessos nas bilheteiras e, por tabela, em DVD ou outras mídias físicas. Tolo engano.
Produzidos por Ridley Scott, diretor do primeiro Alien, vieram Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), dois fiascos de bilheteira. O jovem diretor uruguaio Fede Álvarez conseguiu resgatar o clima dos dois primeiros filmes de Alien, com o intenso Alien Romulus (2024). Enquanto isso, o Predador teve dois bons momentos no cinema com Predadores (2010) e O Predador (2018), além de obras discutíveis no streaming, como Predador – A Caçada (2022) e a animação Predador – Assassinos de Assassinos, lançada este ano no Disney+.
Há também duas produções para o cinema que colocam os dois monstros da Fox num combate aqui na Terra: Alien Versus Predador (2004) e sua sequência Alien Versus Predador 2 (2007).
O mais novo momento cinematográfico com a criatura criada por Stan Winston para o primeiro filme é Predador: Terras Selvagens, onde a raça desses caçadores espaciais é finalmente nomeada como Yautja. O nome foi criado pelo roteirista de quadrinhos Steve Perry, para a trilogia Alien Versus Predador, lançada pela Dark Horse em 1994. Segundo Perry, os Yautja são uma antiga raça extraterrestre que vive sob um restrito código de honra relacionado à caçada esportiva, viajando por diversos planetas escolhidos como campo de caça.
É em torno de uma questão de honra que encontramos Dek, um jovem predador que está sendo preparado pelo seu irmão mais velho para enfrentar os próximos desafios. O problema é que o pai e regente daquele clã não acredita que Dek possa honrar a raça ou a família, por não ser forte o suficiente para enfrentar o Kalisk, uma criatura considerada indestrutível e cobiçada pelos predadores. A reação do pai serve como o estopim para que Dek fuja de um destino cruel, com o objetivo de mostrar seu valor indo até o planeta para capturar o Kalisk.
Se você se lembra da preleção que o coronel Miles Quaritch (Stephen Lang) faz para os novos recrutas ao chegar em Pandora, no filme Avatar (2009), o que Dek encontra nesse planeta é muito pior. Plantas carnívoras, insetos explosivos e animais carnívoros tornam a missão de Dek um verdadeiro martírio, até que ele encontra a despedaçada Thia (Elle Fanning), um androide preso nos destroços de uma nave da Weyland-Yutani — sim, a mesma corporação responsável pela missão da Nostromo no primeiro Alien.
Essa parceria que desagrada Dek o levará a diversas descobertas, revelações e violentos problemas. Entre eles, uma equipe de sintéticos da Weyland-Yutani que veio até aquele campo de caça para, adivinhe, localizar e capturar o Kalisk. O objetivo da corporação vai ficando claro a cada nova ação dessa equipe: capturar o monstro para ser utilizado na divisão de armas biológicas da W-Y. Onde tem um bom negócio para destruir a humanidade, lá está a Weyland-Yutani.
Não é preciso fazer uma grande análise para saber que o filme, repleto de homenagens aos filmes anteriores, é bem construído dentro do gênero ação e ficção científica. O jovem diretor Dan Trachtenberg sabe como tirar proveito de uma situação simples para criar o clima necessário, mantendo o espectador na expectativa do próximo momento. Foi assim que ele fez em Rua Cloverfield, 10 (2016), produzido por J.J. Abrams.
Trabalhar com esse monstro do cinema, no entanto, não é novidade para Dan Trachtenberg. Ele é o diretor da produção original para o Disney+, Predador – A Caçada, mostrando o monstro caçando no período colonial dos Estados Unidos. Este ano, ele também dirigiu a animação Predador – Assassino de Assassinos. Aliás, o trio de roteiristas formado por Patrick Aison, Jim Thomas e John Thomas escreveu o roteiro de Predador – A Caçada, criando elementos interessantes para o novo filme.
O primeiro desses elementos é o conceito de honra familiar, algo que Dek carrega do começo ao fim do filme. Eles também criaram uma relação entre Thia e Dek que lembra o que ocorre em Alien Versus Predador, entre a criatura e a humana interpretada por Sanaa Lathan. “O inimigo do meu inimigo é meu amigo.” E claro, as revelações sobre o Kalisk e como a família pode subverter a ordem das relações pessoais. Outra novidade é que, pela primeira vez, vemos diálogos na língua natal da raça Yautja, criada pelo linguista Paul R. Frommer, também responsável pela língua dos Na’vi em Avatar.
Predador: Terras Selvagens é um filme divertido, cheio de surpresas “naturais”, com uma interpretação fantástica de Elle Fanning. Pelo final surpresa, é provável que tenhamos um novo filme com Dek e sua família predadora. Só a bilheteira irá responder a essa questão… Estreia em 6/11 distribuído pela 20th Century Studios.
