Oz está diferente desde a última vez que vimos a terra além da estrada de tijolos amarelos. A terra mágica e colorida habitada por animais falantes, pessoas e Munchkins segue cheia de cor, mas o sentimento geral é de raiva e desconfiança, fruto de um projeto calculado de obtenção e manutenção de poder.
Baseado no musical da Broadway, por sua vez criado a partir do livro Maligna: A História Não Contada das Bruxas de Oz, de Gregory Maguire, Wicked volta o olhar para a personagem derrotada no longa O Mágico de Oz (1939) para falar da natureza do bem e do mal e como a opinião pública pode ser manipulada.
O movimento é o mesmo de outras histórias – e realidades – sobre autoritarismo. Para desviar a atenção do que acontece em casa, é preciso criar um inimigo externo, apontar o dedo para o diferente. Em Oz, isso começa com a exclusão dos animais, que no princípio conviviam com as pessoas e são pouco a pouco “animalizados”, deixando de falar e tornando-se criaturas como as que conhecemos no mundo daqui mesmo e segue incluindo os Munchkins em leis cada vez mais restritivas.
O grande golpe de propaganda, entretanto, vem em colocar Elphaba como a inimiga. É onde Madame Morrible (Michelle Yeoh em mais um papel de mulher poderosa) entra em ação para construir para os moradores de Oz a personagem que ao longo da história deixa de ser uma pessoa e perde até o próprio nome, transformando-se em apenas a Bruxa Má.
É um caminho que mostra duas reações diferentes diante da mesma pressão. Figura feita para atrair as massas para o que é bom e bonito – e acima de tudo, vazio – Glinda (Ariana Grande), percebe a mentira em que está envolvida, mas segue em seu papel porque o posto lhe agrada, mesmo enquanto tenta proteger a amiga e convencê-la a fazer parte da encenação. Enquadrada como inimiga, Elphaba (Cynthia Erivo) assume o enfrentamento direto, tenta unir os animais e os Munchkins contra Oz (Jeff Goldblum) e Morrible. Seus avisos sobre o que está acontecendo e as consequências de permitir-se ser enganado, contudo, caem em ouvidos tapados pela máquina de marketing. Se quem está no comando diz que aquela pessoa que tem um discurso diferente da maioria está errada, é mais fácil seguir o enterro.
Nesse jogo, o roteiro por pouco não cai no discurso puro, esquecendo que se trata também de entretenimento. A segunda parte não conta com uma canção arrebatadora como “Defying Gravity” ou a simpática e divertida “Popular”, embora Glinda ainda movimente a varinha ao estilo Star Wars que tanto diverte o público do musical, restando “For Good” ser o tema desse momento da história. É uma bela canção, mas não tem o mesmo efeito das outras duas. Fiyero (Jonathan Bailey) também não ajuda, mostrando pouca força interna ao simplesmente aceitar o que lhe é proposto, e só se recupera no final como parte da conexão entre Wicked e O Mágico de Oz.
É uma segunda parte carregada, com muita coisa acontecendo, desde os sentimentos e recalques dos personagens à origem da aliança dos macacos alados com a Bruxa Má e até a criação do Homem de Lata e do Espantalho. O resultado é um tom mais adulto e complexo do que a primeira parte, com os personagens trocando a escola e como ser popular por questões sobre verdade e coragem para reagir. Estreia em 20/11 distribuído pela Universal Pictures.

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