No filme O Último Samurai (2003), o personagem de Tom Cruise é um cínico militar que participou da Guerra Civil americana. Com a reputação em baixa e sempre alterado pela bebida, ele é recrutado para treinar um grupo de soldados japoneses para uma missão bem diferente: o novo governo imperial japonês decidiu dispensar a qualquer custo os samurais, os guerreiros que enfrentavam a própria morte para defender o Imperador.
O problema é que existe um grupo liderado por Ken Watanabe que resiste a essa mudança de tradição. Ele captura Tom que, acaba aos poucos, abraçando a causa de Ken, transformando-se num samurai na essência, respeitando os códigos de honra que está sendo desrespeitado pelo jovem imperador.
Essa introdução é importante para pontuar a nova série original da Netflix, que se passa exatamente neste período do Japão, que estava deixando de lado as tradições seculares, para entrar no industrial e indeciso século 20. Em Até o Último Samurai, conhecemos Shujiro Saga (Junichi Okada), um samurai que no começo do primeiro episódio lidera um ataque contra um exército inimigo, num plano-sequência de tirar o fôlego.
Passado alguns anos do conflito, vemos Shujiro em casa e enfrentando outra batalha, agora, contra a cólera, que atacou sem piedade a vila onde mora. Sem dinheiro para remédios e até mesmo, comida, Shujiro tenta vender o que restava de sua dignidade samurai, para conseguir um pouco de dinheiro. Era tarde: a doença leva sua filha e quase toda a sua esperança de uma vida melhor.
Despedido do cargo de samurai, Shujiro recebe com surpresa um convite para participar de um torneio de samurais, cujo vencedor ganhará mais de 100 mil ienes. Dinheiro suficiente para cuidar da família e deixar a espada descansar para sempre. O que ele não contava é que o torneio não era uma competição, mas onde vencer por ser o melhor, significará permanecer vivo!
Sim, parece que a história agora é uma temporada secreta da produção coreana Round 6, onde jogadores participam de um torneio de vida e morte por um resultado milionário para que estiver vivo no final de tudo. E o criador de Round 6, Hwang Dong-hyuk não se inspirou no mangá Ikusagami, escrito por Shogo Imamura, em 2022, que deu origem à série Até o Último Samurai. Round 6 é de 2021.
É o próprio ator, produtor e coreógrafo de artes marciais Junichi Okada que define a nova série streaming como o encontro de Shogun com Round 6. A deixar sua família para tentar a sorte neste torneio, Shujiro descobre que a principal regra chegar até o fim do jogo em Tóquio, é ficar vivo e, no processo, eliminar seus concorrentes. O problema é que, assim como acontece em Round 6, é um dilema mortal, já que na jornada em busca de um futuro melhor para sua família, ele terá que eliminar pessoas que ele acabou salvando durante o torneio.
O interessante é que Até o Último Samurai explora um gênero até então desconhecido do público em geral que é o jidaigeki, os dramas samurais de época, onde sobreviver é mais do que um jogo ou um estilo de vida. Outro detalhe importante que se compara com Round 6 é que, nos bastidores desse torneio, não está apenas o interesse do Imperador em acabar com os samurais. Existe mais gente interessada em não ter alguém ou um grupo de pessoas que possam impedir planos políticos e corruptos junto ao novo Império japonês.
Até o Último Samurai é um drama de época baseado num momento da história do Japão do século 19, onde o medo do futuro, acabou desencadeando o desejo de enterrar o passado. É sobre a resistência dessa modernidade que está o melhor dessa produção.

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