Cyclone, dirigido por Flávia Castro, transporta o público para São Paulo de 1919 e apresenta a luta de Daise (Luiza Mariani), uma trabalhadora de gráfica que busca reconhecimento como dramaturga, em um contexto de desigualdade de gênero e luta por liberdade criativa. O filme se baseia em uma figura real (Maria de Lourdes Castro Pontes, apelidada Miss Cyclone pelos Modernistas) trazendo à tona uma narrativa de resistência feminina, não apenas contra as normas sociais, mas também contra as imposições da arte e do sistema patriarcal da época.
Daise vive à sombra de Heitor (Eduardo Moscovis), seu companheiro, que se beneficia do crédito pelas obras criadas em dupla. A pressão para conquistar uma bolsa de estudos em Paris e interromper uma gravidez indesejada a forçam a enfrentar as limitações impostas por seu relacionamento e pela sociedade. Para isso, ela conta com o apoio de amigas como Chérie (Magali Biff), uma cantora decadente, e de sua colega prostituta (Karine Teles), que também sonha em ser reconhecida como atriz.
Flávia Castro se inspira em uma obra literária de época para abordar uma questão universal: a luta pela autonomia e a liberdade de criação das mulheres. O filme se afasta do realismo social tradicional ao adotar uma abordagem estética que mistura teatralidade com uma construção poética do passado. A fotografia usa cores suaves para criar uma atmosfera de distanciamento temporal.
Lembra teatro, especialmente nas escolhas de enquadramentos e na forma como os cenários são construídos, claro compromisso com a abstração dos espaços e um forte caráter simbólico.
Cyclone usa uma linguagem mais próxima da contemporaneidade, que aproxima as personagens do público atual. Os personagens falam com naturalidade longe de um contexto histórico distante. As escolhas de figurino e direção de arte também são cuidadosas, com elementos como luvas e colarinhos que aludem à época, sem a necessidade de uma recriação fiel e detalhada. Estreia em 4/11 distribuído pela Bretz Films.
