onhos de Trem é uma obra que aborda temas profundos sobre a existência humana, trazendo uma reflexão sobre a relação do homem com o mundo natural e os efeitos da modernização desenfreada. Adaptado do livro homônimo de Denis Johnson, o filme é uma jornada visual e filosófica, e apresenta uma produção de altíssimo nível, com a assinatura do diretor Clint Bentley.
O filme começa com palavras poderosas de Arn Peeples, interpretado por William H. Macy: “Trabalho pesado não só para o corpo, mas para a alma. Nos cortamos árvores que estavam aqui há mais de 500 anos. Abala a alma de um homem, quer ele reconheça isso ou não. Esse mundo está intrinsecamente costurado. Não sabemos como cada fio que puxamos afeta o desenho das coisas. Somos crianças nessa terra, puxamos parafusos da roda gigante, pensamos que somos deuses.”
Essas palavras se tornam o ponto de partida para uma narrativa intensa e cheia de significado. Robert Grainier (Joel Edgerton) é um lenhador que vive no início do século 20, em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Ele trabalha na derrubada de árvores para dar lugar à construção de ferrovias em Idaho. Sua vida, inicialmente simples e focada na família, é tragicamente alterada quando um incêndio de grandes proporções toma conta de sua vida, colocando em xeque suas crenças e valores.
O diretor Clint Bentley demonstra uma habilidade rara em sua abordagem da história, utilizando uma cinematografia refinada e cuidadosamente planejada. A fotografia do brasileiro Adolpho Veloso é um dos maiores destaques, oferecendo planos belíssimos e movimentos de câmera precisos que capturam a vastidão da paisagem e o drama interno dos personagens. O trabalho técnico é, sem dúvida, uma das grandes forças do filme.
Sonhos de Trem não se limita a ser apenas uma história sobre a vida de um lenhador, mas sim uma reflexão sobre a ganância, a destruição ambiental e as consequências do progresso. O filme expõe, com sensibilidade, os dilemas existenciais do protagonista, que enfrenta a dura realidade de um trabalho extenuante, enquanto lida com a devastação que sua profissão causa ao meio ambiente. Há também uma crítica velada à história do crescimento dos Estados Unidos, marcada pela exploração das suas riquezas naturais, que eventualmente cobra o seu preço.
A narração de Will Patton ao longo do filme oferece uma camada adicional de profundidade, guiando o público por essa jornada de perdas, redenção e aprendizado. E, por mais que a história seja carregada de uma atmosfera melancólica e depressiva, ela também oferece uma perspectiva sobre a natureza humana e o inevitável ciclo de destruição e renovação.
Com uma excelente produção da Netflix, Sonhos de Trem se destaca como um dos grandes filmes de 2025, trazendo uma abordagem sensível e crítica sobre temas atuais e urgentes, como a preservação ambiental e a reflexão sobre o legado das escolhas humanas. É, sem dúvida, um dos filmes mais impactantes do ano, e uma obra essencial para quem busca algo além do entretenimento, mas uma experiência cinematográfica que provoca e questiona.
