In Memoriam – Brigitte Bardot (1934 – 2025)

In Memoriam – Brigitte Bardot (1934 – 2025)

Não lembro exatamente quando ouvi falar em Brigitte Bardot, mas seu nome me chamou a atenção quando assisti, nos anos 70, ao filme Minha Querida Brigitte (1965). Era uma comédia estrelada por James Stewart, que interpretava um professor de literatura com um filho gênio da matemática, obcecado em conhecer nada menos do que Brigitte Bardot, a grande atriz francesa.

Na época, não era muito comum ver atores com a chancela de estrelas internacionais. Afinal, Hollywood ainda dominava como a toda-poderosa fábrica de astros e estrelas do cinema. Era mais fácil ver um único filme reunir grandes nomes, como A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956), feito por Hollywood, do que uma produção internacional com astros e estrelas francesas, italianas e britânicas.

Minha Querida Brigitte me chamou a atenção justamente por reunir na tela dois grandes nomes do cinema: James Stewart e Brigitte Bardot. Na realidade, abrindo meu coração adolescente, o personagem que mais me fascinou foi o do supergênio da matemática, interpretado por Billy Mummy. Billy era meu ídolo, conhecido por interpretar o jovem Will Robinson na cultuada série Perdidos no Espaço (1965–1968). Aliás, o ator tinha apenas 9 anos quando fez o filme, e logo após, entraria no elenco da série produzida por Irwin Allen.

O mais fascinante do filme é que, após uma longa jornada, James Stewart finalmente leva Billy para conhecer Brigitte Bardot, com direito a uma foto de fã. É divertido e revelador, especialmente quando, anos depois, você, mais interessado em aprender sobre cinema, descobre que o diretor dessa pequena obra era Henry Koster, responsável por filmes significativos como Meu Amigo Harvey (1950), O Manto Sagrado (1953) e Flor de Lótus (1961).

Fica muito mais interessante quando uma comédia ingênua com um dos maiores símbolos sexuais do cinema abre as portas da mente para conhecer melhor Brigitte Bardot. Ironicamente, Brigitte participou do movimento dos jovens cineastas franceses, a Nouvelle Vague, considerada revolucionária na época. Porém, após se aposentar do cinema, se transformou numa conservadora, o que causou o desespero dos rebeldes dos anos 50 e 60.

Ela começou a fazer pequenas participações em filmes desde Le Trou Normand (1952). Incentivada por uma amiga do Conservatório de Paris, ela posou para a capa da revista Elle, sendo descoberta pelo diretor Marc Allegret, que gostou do que viu e a colocou no filme Desfolhando a Margarida (1956). Foi nesse mesmo ano que ela e o jovem cineasta Roger Vadim cometeram o “fora dos padrões” com o filme E Deus Criou a Mulher (1956), um clássico que revelou não apenas o talento de Brigitte como jovem sedutora, mas também a posicionou como um ícone sexual nas telas dos cinemas do mundo inteiro. Casados na vida real, Vadim e Bardot abriram as portas para filmes onde a sexualidade se tornava um personagem importante.

É nesse momento que cabe uma pequena explicação sobre uma das expressões mais divertidas usadas pelos americanos para demonstrar a diferença entre um beijo no cinema americano e o beijo no cinema europeu: o famoso “french kiss” (beijo francês ou beijo com língua). A expressão nasceu no final da Primeira Guerra Mundial, a partir de relatos dos soldados americanos sobre esse ato das francesas, como demonstração de gratidão pelo fim do conflito.

Em seus filmes, Brigitte Bardot mostrou que um beijo apaixonado era a diferença que a colocou em destaque no mundo cinematográfico entre o final dos anos 50 e o começo dos anos 70. Como atriz loira, inteligente, jovem e muito sensual, ela rivalizava em pé de igualdade com as atrizes americanas, mais maduras e femininas, como Marilyn Monroe e Audrey Hepburn.

O auge de sua carreira ocorreu na década de 60, onde trabalhou em A Verdade (1960), dirigido por Henri-Georges Clouzot; Louis Malle a dirigiu em Vida Privada (1962), com Marcello Mastroianni; O Desprezo (1963), com Jack Palance e Michel Piccoli, com direção de Jean-Luc Godard; As Malícias do Amor (1964), ao lado de Anthony Perkins; Viva Maria! (1965), com Jeanne Moreau e novamente direção de Louis Malle; Histórias Extraordinárias (1968), e Shalako (1968), um faroeste estrelado por Sean Connery.

Já separada de Roger Vadim, Brigitte recusou interpretar o papel de Barbarella na adaptação dos quadrinhos criados por Jean-Claude Forest, em Barbarella (1968). O papel acabou chegando a Jane Fonda, que estava interessada em dar um novo rumo à sua carreira. No ano seguinte, Brigitte estrelou A Noite dos Desesperados (1969), dirigido por Sidney Pollack, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Em tempo, ela também participou da antologia Histórias Extraordinárias, em que fez uma das histórias.

Nos anos 70, Brigitte esteve em As Noviças (1970), comédia de Claude Chabrol; O Urso e a Boneca (1970), outra comédia assinada por Michel Deville; trabalhou com Lino Ventura em Boulevar do Rum (1971), de Robert Enrico; o faroeste italiano com Claudia Cardinale, As Petroleiras (1971); e, em 1973, voltou a trabalhar com Roger Vadim no drama Se Don Juan Fosse Mulher (1973).

Seus filmes foram responsáveis por mudar comportamentos e padrões no cinema ao redor do mundo, não apenas sobre sexo e sensualidade, mas também sobre como lidar com esses temas em um mundo onde maniqueísmos e objetificação ainda eram regras para serem seguidas. Brigitte partiu após uma longa luta contra uma enfermidade que a acompanhou nos últimos dez anos de sua vida.

Fica a lembrança de um dos grandes talentos da Sétima Arte e uma homenagem especial feita pelos brasileiros da cidade litorânea de Búzios, que ergueram uma estátua em sua homenagem…

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