Crítica | Filme | A Cor Púrpura

Estado da Georgia, início do século 20. A adolescente Celie dá à luz ao segundo filho de seu pai, um menino a quem dá o nome de Adam. A cena é o momento de passagem entre o filme de 1985, baseado no livro de Alice Walker e a nova versão, uma adaptação do musical da Broadway. Uma diferença de origem que não pode ser esquecida, pois afeta o resultado final.

Lançado em 1982 e ganhador do Pulitzer de 1983. A Cor Púrpura acompanha Celie entre 1909 e 1947, uma jornada por dignidade e vida de uma mulher que encontra apoio e impulso em outras mulheres. No livro, as irmãs Celie e Nettie escrevem cartas que compõem a história. Uma narrativa cuja complexidade nem sempre aparece na tela.

Dor e resistência

Logo após o nascimento do bebê, o pai de Celie e da criança leva o menino embora, assim como fez com uma menina anteriormente. A forma desumanizada com que ela a trata, entretanto, não fica por aí. Em seguida, ele entrega Celie em casamento a Mister. Como uma mercadoria, Celie passa de um abusador a outro. Pouco tempo depois, o esperado acontece. Sem Celie, o pai volta os olhos para Nettie, que pede asilo na casa da irmã.

O que vem a seguir é também o esperado. Mister tenta estuprar Nettie, que o rejeita e é expulsa da casa. A cena de separação das irmãs, único ponto de apoio e amor uma da outra num mundo hostil é um dos momentos centrais da história. No musical, entretanto, ela não tem a mesma pujança do mesmo momento no longa de 1985, apesar do ótimo trabalho de Halle Bailey e Phylicia Pearl Mpasi, intérpretes de Nettie e Celie nessa fase, e Colman Domingo no papel de Mister.

Três Mulheres

A partir desse momento, o apoio de Celie é a esperança de que os filhos e Nettie estejam vivos. É o que a mantém ereta nos anos que passam até a entrada de duas mulheres que com ela formarão o trio de ouro do filme, Shug e Sofia. Elas também resistem ao mundo à sua volta, mas ao contrário de Celie, não o fazem em silêncio e submissão.

Shug, grande amor de Mister, escolheu ser cantora de blues, contrariando família e sociedade. Sofia, esposa do enteado de Celie, por outro lado, vive sob o lema de jamais abaixar a cabeça ou ser ignorada.

Junto com Fantasia Barrino como a Celie adulta, papel que ela fez na Broadway, Taraji P. Henson possui Shug e Danielle Brooks, também reprisando seu trabalho na Broadway é simplesmente explosiva como Sofia. É um trio poderoso mostrando a jornada de crescimento de três mulheres em estágios diferentes de autoconhecimento e realização.

Novos tempos

Se por um lado, o musical escolhe uma rota mais suave, ele também se aproveita dos novos tempos, dando mais espaço ao relacionamento entre Celie e Shug do que o filme anterior. Por outro lado, falta espaço tanto para a complexidade que marca a vida de Celie e a impulsiona ao seu passo final, como para a mudança de rumo de Mister.

O final cheio de encontros mágicos, embora satisfatório para quem torce por Celie, também parece um tanto irreal numa história de pais estupradores, maridos violentos e choques racistas. Interpretações de alto calibre, números musicais fortes, incluindo a clássica Miss Celie´s Blues e as fortes I’m Here e Hell No, entretanto, colocam essas questões de lado. Estreia em 8/2 distribuído pela Warner Bros. Pictures.

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