O ano segue marcado por perdas no meio artístico brasileiro, agora com a morte de Erasmo Carlos.
O cantor que explodiu durante a Jovem Guarda e fez uma dupla imbatível com Roberto Carlos já havia enfrentado problemas de saúde no início do mês e hoje voltou a ser internado, mas não resistiu.
Conhecido pelo apelido de Tremendão, Erasmo Carlos foi um dos pioneiros do rock brasileiro.
Nascido no Rio de Janeiro, Erasmo Esteves iniciou a carreira musical muito cedo ao lado de outros nomes que ficariam famosos, como Tim Maia e Jorge Ben, parte de um grupo que se reunia no Bar Divino.
Nesses tempos pioneiros, Erasmo esteve no show de Bill Haley no Maracanãzinho, em 1958 ,e saiu de lá inspirado.
Junto com alguns colegas, ele criou o grupo os Snakes, que chegou a gravar e ser lançado como concorrente de outro grupo, os Golden Boys.
Contudo, o grupo não teve sucesso e Erasmo foi trabalhar como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial. Não era uma carreira de cantor, mas o trabalho o mantinha dentro da cena musical. Foi o Imperial quem o colocou como vocalista do grupo Renato & Seus Blue Caps.
Algum tempo depois, Erasmo fez a versão em português de Splish Splash, que foi gravada pelos Blue Caps e Roberto Carlos. Começava ali a parceria que se tornaria um clássico na música brasileira, Roberto e Erasmo.
É dessa fase, 1964, a canção Minha Fama de Mau, que deu a Erasmo a fama de rebelde contestada por seus amigos, que sempre o chamaram de gigante gentil.
O ano seguinte traria o programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa.
Surgiram nesse período parcerias de Erasmo com os Fevers, The Jordans e The Jet Black´s. E também a divergência entre a Jovem Guarda e o pessoal da MPB.
Irritado com as agressões que partiam de críticos musicais e DJs, Erasmo chamou a Bossa Nova de esnobe e distante do povo. E diante da acusação de que o Iê-iê-iê bebia de fontes estrangeiras, Erasmo lembrou que a Bossa Nova tinha no jazz uma de suas grandes influências.
Com o fim da Jovem Guarda, tanto o movimento quanto o programa, Erasmo Carlos saiu em busca de novos rumos.
Em 1969, ele reflete esse momento com a música Sentado à Beira do Caminho. Em 1971, outra grande canção, Dois Animais na Selva Suja da Rua, composição de Taiguara. A rixa com o pessoal da MPB sai de cena e Caetano Veloso compõe para Erasmo a música De Noite na Cama.
Longe de parar ou tornar-se irrelevante com a passagem dos anos, Erasmo Carlos amadureceu nos anos 1970, que ele definiu em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo como sair do be-a-bá e ir para a faculdade.
O vestibular, segundo o cantor, foi o álbum Erasmo Carlos e Os Tremendões, que reúne músicas da parceria com Roberto Carlos, uma composição de Caetano Veloso e a clássica Aquarela do Brasil, de Ary Barroso.
Comemorando sucessivos aniversários de carreira, Erasmo Carlos seguiu compondo, fazendo shows e lançando álbuns nos anos seguintes. São dos anos 2000 a faixa Mesmo Que Seja Eu, que reúne trabalhos de 1971 a 1988, e o álbum Erasmo Carlos Convida II, em que nomes como Djavan, Marisa Monte e Skank cantam composições dele.
Em 2009, Erasmo Carlos lançou seu livro de memórias, Minha Fama de Mau, que dez anos depois seria o título do longa-metragem inspirado por sua vida. Interpretado por Chay Suede, o Erasmo do filme mostra como foi construir uma carreira musical sem a proteção de uma família envolvida no meio artístico, bem como as armadilhas e obstáculos que acompanham o sucesso e a fama.
Também em 2009, Erasmo lançou o CD Rock n Roll, que lhe garantiu uma indicação ao Grammy. Viriam ainda o prêmio de melhor compositor pela APCA, a participação no Rock in Rio e a comemoração de 50 anos de carreira com uma gravação ao vivo no Municipal do Rio de Janeiro.
Incansável, Erasmo lançou um álbum em 2021 e quando foi internado no início do mês, teve de cancelar apresentações em Miami e Orlando. A música foi seu grande amor desde o início e ele não parecia disposto a parar.