Dá para entender a razão pela qual Alex Garland (e a A24) optou por lançar Guerra Civil nos EUA em meio a mais uma corrida eleitoral polarizada. O filme – que estreia no Brasil em 18/4 distribuído pela Diamond Films – é uma ficção com potencial para virar uma triste realidade.
Os EUA, que no passado se dividiu em uma Guerra de Secessão, volta às vias de fato. Agora, por conta de um presidente não unânime (vivido por Nick Offerman, que trabalhou com Garland em Devs) que, entre outras coisas, simplesmente dissolveu o FBI.
Guerra Civil já começa mostrando o conflito armado e a fotojornalista de guerra Lee Smith (Kirsten Dunst) e seu colega Joel (Wagner Moura) cobrindo as hostilidades nas ruas americanas. Dispostos a entrevistar o presidente enquanto o conflito não se define, decidem cair na estrada ao lado de uma aspirante a fotógrafa (Cailee Spaeny) e de um veterano jornalista (Stephen McKinley Henderson). Sem imaginar o que encontrarão pelo longo caminho.
O diretor e roteirista Alex Garland (Ex-Machina) não toma ou oferece partidos em Guerra Civil. Aparentemente. A partir do momento em que apenas cita a dissolução do FBI pelo presidente sem nome interpretado por Offerman, faz referência direta ao ex-presidente (e atual candidato) Donald Trump, que chegou a sugerir desfinanciar o bureau em sua polêmica gestão. E indica um lado.
Poderia ter mencionado a criação de um muro para coibir a imigração ilegal ou mesmo o terraplanismo. E isso não faria diferença alguma. Porque nos dias de hoje tem sempre alguém oferecendo motivos para polarizar a população. Lá e aqui.
Claro, um movimento armado, com guerra urbana e completa indistinção do que é certo ou errado (ou de quem é a favor e quem é contra!) ainda está um pouco longe. Por mais que alguns cidadãos de bem optem por armarem-se até os dentes esperando por alguma invasão comunista.
Por essas e por outras (e já disse isso em CriCríticos) o timing de Guerra Civil é bom. Porque funciona como um alerta. E não por acaso, o filme da A24 está indo muito bem nas bilheterias americanas, apesar das esperadas reações polêmicas do público. Ele custou cerca de US$ 50 milhões e já faturou mais de US$ 25 milhões até o momento em que esta crítica era escrita.
O filme de Garland não conta apenas uma boa história, com personagens críveis e boas atuações. Há um clima de tensão crescente enquanto os jornalistas rumam para Washington. As cenas que tipificam o conflito doméstico americano são concluídas inesperadamente e de maneira envolvente. Não são óbvias, portanto, e podem sacudir o espectador na poltrona. Há um capricho na fotografia, nos efeitos e na trilha musical. Foram US$ 50 milhões bem gastos a meu ver.

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