Crítica | Filme | Transe

Crítica | Filme | Transe

O filme brasileiro Transe, que estreia em 2/5, distribuído pela ArtHouse e Filmes do Estação, deve dividir opiniões. Naturalmente. Afinal, nosso país ainda se encontra polarizado após a mais recente eleição presidencial. E por mais que isso soe batido, banal, é a nossa mais pura realidade.

Mas a intenção das roteiristas e diretoras Anne Pinheiro Guimarães e Carolina Jabor não parece ter sido essa. Simplesmente registrar a polarização por suas lentes. Para isso existe a imprensa (ainda!). E nenhuma obra, documental ou ficcional, vai convencer ninguém de nada. A fase em que estamos não permite que ninguém se convença de nada, seja verdade ou fake news. E a vida segue.

Para contar essa história, Transe volta para os meses que antecederam a eleição para presidente de 2018. E toma emprestado os poros da personagem Luisa (Luisa Arraes), uma jovem atriz que, assim como quase metade da população brasileira, se manifestava nas ruas contra uma possível ascensão da extrema direita no país.

Ela vive um relacionamento aberto com seu namorado músico, Ravel (Ravel Andrade), mas se envolve com Johnny (Johnny Massaro) e eles vivem um relacionamento a três. O Transe do título poderia se relacionar ao trisal dos protagonistas, mas é mais apropriado atrelá-lo ao torpor na consciência de muitos brasileiros que, alegando pensar no melhor para o Brasil, apoiaram o candidato da direita de então. Que acabou vencendo a eleição e governou o país por quatro anos.

Só que, ao apoiarem esse candidato, endossaram a misoginia, o preconceito, a homofobia, o racismo, o terraplanismo, o negacionismo, etc.. Seria possível engordar essa lista mas, como já disse, para isso existe a imprensa. E a Justiça.

Pois é misturando ficção com documentário que Anne e Carolina reveem nossa história recente. Todos estávamos lá. Todos vimos famílias e grupos de amigos se dividindo entre esquerda e direita, e isso ainda não acabou.

Não acabou porque é difícil respeitar a diferença. Porque todos temos certeza de tudo, trazemos as verdades no bolso e estamos do lado certo da história. Transe é apenas uma pincelada nesses anos sombrios. Pode até parecer assunto velho, mas não poderia ser mais atual.

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