Crítica | Filme | Grande Sertão

Crítica | Filme | Grande Sertão

Grande Sertão é um longa bem agitado adaptado a partir do livro Grande Sertão: Veredas, escrito por Guimarães Rosa, dirigido pela dupla Guel Arraes e Flávia Lacerda, a mesma do esperado O Auto da Compadecida 2.

Em uma realidade moderna e árida, onde a violência impera e a justiça se esvai, Grande Sertão emerge como um soco no estômago, nos convidando a mergulhar em um sertão reimaginado, pulsando ao ritmo frenético dos “favela movies“. O longa-metragem nos presenteia com uma releitura bem distinta da obra-prima de Guimarães Rosa, tecendo uma narrativa visceral e multifacetada, onde a ação desenfreada se entrelaça com reflexões profundas sobre a dor, a culpa e a busca por redenção.

Um professor em busca de respostas

Na pele de Riobaldo encontramos o ator Caio Blat (O Debate), aqui vivendo um professor marcado por uma tragédia inimaginável: durante um tiroteio entre policiais e bandidos, uma de suas alunas é vítima de bala perdida, sucumbindo à morte. Atordoado pela culpa e consumido pela sede de justiça, Riobaldo se vê envolvido em uma teia de intrigas e violência, onde a linha entre o certo e o errado se torna tênue e traiçoeira.

Ao lado de Caio Blat brilham nomes de peso como Luísa Arraes (Transe), Mariana Nunes, Rodrigo Lombardi, Eduardo Sterblitch (irreconhecível!) e Luis Miranda, compondo um elenco de tirar o fôlego. Luísa Arraes, em uma performance bem visceral, dá vida à enigmática Diadorim, amiga de infância de Riobaldo e figura central na trama. Mariana Nunes, por sua vez, encarna Otacília, mãe da aluna morta, em um papel carregado de dor e sofrimento.

Esse Grande Sertão, que a Paris Filmes lança nos cinemas em 6/6, nos presenteia com cenas de ação eletrizantes, coreografadas com maestria e executadas com perfeição. Mas, para além da adrenalina, o filme nos convida a mergulhar em uma história complexa e multifacetada, onde cada personagem carrega suas próprias mágoas, motivações e segredos. A narrativa, não linear, nos guia por diferentes veredas do sertão, revelando os diversos lados da história e convidando-nos a questionar as noções de justiça, culpa e redenção.

Roteiro sólido, direção impecável

O roteiro, assinado por Guel e Jorge Furtado (de Real Beleza), obviamente foi a base para o vemos na tela. E ele está sólido. Os autores tecem uma narrativa envolvente, repleta de reviravoltas e personagens cativantes, ainda assim não descaracterizando a clássica narrativa de Guimarães Rosa. A direção conduz o filme com um ritmo frenético majoritariamente, construindo uma atmosfera densa e sufocante.

Me arrisco a dizer que Grande Sertão vai além do entretenimento. É um convite à reflexão sobre a violência que assola nossa sociedade atualmente. Sobre a busca por justiça e sobre a complexa natureza humana, temas que sempre merecem estar em pauta.

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