Não se sabe se a falta de criatividade está fazendo com que os grandes estúdios tragam para os dias de hoje, grandes sucessos do cinema em cópias digitais que restauram o brilho dos hits do passado. Hoje, muita gente não assiste a esse tipo de momento especial do cinema por considerar que são filmes feitos no século 20, algo antigo demais para ser visto sob a ótica simplista do público que vai ao cinema celebrar um filme como Madame Teia, por exemplo.
Quem gosta de ver uma boa produção, com uma boa história e com um elenco de encher os olhos, tem que deixar de lado o preconceito e embarcar numa grande aventura no escurinho do cinema. É o caso da volta aos cinemas do grande sucesso de 1978, Super-Homem – O Filme, dirigido por Richard Donner (Máquina Mortífera) e estrelado por Christopher Reeve, Marlon Brando, Gene Hackman e Margot Kidder.
Antes de continuar, devo lembrar que esse texto não foi globalizado, por isso o nome é Super-Homem – O Filme e não Superman – O Filme, como a Warner anda divulgando. O resto são decisões de marketing que não tem o menor sentido. Mas isso é outra discussão.
Era dezembro de 1978, quando os cinemas americanos abriram as portas para o primeiro filme de super-herói. Era uma aventura baseada no mais famoso e popular herói dos gibis, Super-Homem, criado em 1938 pela jovem dupla Joe Shuster e Jerry Siegel para a National Periods, que se tornaria a DC Comics.
Toda a aventura de transformar uma ideia numa produção hollywoodiana nasceu dos produtores de origem polonesa Alexander (pai) e Ilya Salkind (filho). Não tenho a mínima ideia de como conseguiram os direitos para fazer o filme do último filho de Krypton, mas a dupla de produtores conseguiu convencer Marlon Brando a fazer o pai do Homem de Aço e Gene Hackman, o arqui-inimigo Lex Luthor.
Não preciso entrar nos detalhes sobre os planos de fazer o filme, conseguir um bom diretor, um bom roteirista e, claro, alguém que iria honra o principal slogan do filme: você vai acreditar que um homem pode voar! Os efeitos visuais, especialmente os utilizados na meia hora final, foram supervisionados por Derek Meddings, responsável pelas séries Thunderbirds, Capitão Escarlate e que, anos depois, foi supervisionar os efeitos visuais de Batman, dirigido por Tim Burton.
Mesmo com todas as batalhas para realizar uma produção como essa, ninguém está 100% confiante de que tinha um sucesso mundial nas mãos. O fato de lançarem o filme em dezembro nos EUA é um indicativo dessa “confiança”. Filmes são lançados nessa época do ano lá, quando é inverno, ou porque estão competindo para entrar entre os indicados do Oscar®, ou porque o filme não tem qualidade e seus produtores o escondem, simplesmente.
Felizmente, produtores e pessimistas de plantão estavam errados.
Em seu primeiro final de semana, o filme conseguiu faturar US$ 8 milhões. O boca-a-boca fez com que filas e filas fossem formadas para ver o Super-Homem salvar um ônibus cheio de estudantes cair da ponte Golden Gate, impedir uma inundação e impedir o descarrilamento de um trem, num momento clássico dos quadrinhos. Com um orçamento estimado em US$ 55 milhões, o filme fechou sua temporada com quase US$ 135 milhões nas bilheterias americanas e cerca de US$ 300 milhões no resto do mundo.
Aqui no Brasil chegou em 2 de abril de 1979, numa tarde ensolarada na capital paulista. Uma segunda-feira, dia em que todos os filmes estreavam (isso mudou com a chegada dos multiplexes nos anos 90). Estava trabalhando na TV Cultura e me preparando para pegar a primeira sessão no cinema mais próximo, no bairro da Água Branca. Lembrando que ir de lá até a Avenida Paulista, de ônibus, levaria quase duas horas. Mais próximo dali era o Cine Festival, na Rua Deputado Lacerda Franco, em Pinheiros.
E para lá fui para chegar na primeira sessão para ver se o homem poderia voar. Fã do personagem dos quadrinhos, vi o seriado de 1952, com George Reeves, quando a Bandeirantes o exibiu pela primeira vez no Brasil, no final dos anos 60. Depois no programa Zás-Traz, vi o desenho animado As Novas Aventuras do Super-Homem, produzido pela Filmation, também no final dos anos 60.
Que momento…
O filme nos leva a uma viagem para conhecer a origem do personagem, sua viagem temporal até ser adotado pelo casal Jonathan e Martha Kent, seu primeiro emprego no Planeta Diário e seu primeiro salvamento.
E que momento fantástico do cinema. Lois Lane (Margot Kidder) se prepara para embarcar no heliporto do Planeta Diário, quando um acidente a joga à beira da morte. Saindo despreocupadamente de mais um dia de trabalho, Clark Kent (Christopher Reeve) percebe que sua futura paixão está em perigo e… Para o alto e avante!
Desculpe, me empolguei. Ele não fala a frase usada no desenho animado. Ele procura desesperadamente uma cabine telefônica, onde ele utilizaria sua super velocidade para trocar de roupa. Dá de cara com um orelhão e sai alucinado. É um momento de perigo real e imediato.
Assim que ele abre sua camisa e vemos o imenso S em seu peito, sabemos que em questão de segundos Lois será salva. E que salvamento. Não só ele pega a garota que despenca do arranha-céu como também acaba segurando o helicóptero acidentado com a outra mão… E o povo do cinema (incluindo o jovem Paulo Gustavo) vai à loucura, aplaudindo como se estivesse vendo uma peça de teatro.
Meu único senão foi com algumas situações colocadas por Mario Puzzo, o roteirista e escritor de O Poderoso Chefão, que dariam ao filme um toque exagerado de humor. Felizmente isso não aconteceu.
O drama do personagem ao saber que tem uma missão após a perda do pai terrestre, é regado a uma solene e respeitosa composição do lendário John Williams, que eternizou o filme com uma das músicas-temas mais emocionantes do cinema.
Quando terminou a sessão me sentia nas nuvens, querendo cantar a música romântica Can You Read My Mind, quando Super-Homem leva Lois para um passeio nas nuvens. Aliás, na trilha sonora só temos Margot Kidder recitando a letra, que depois foi gravada por Maureen McGoven, parceira de John Williams nas trilhas dos filmes O Destino do Poseidon e Inferno na Torre.
Comprei a trilha sonora e, para minha primeira decepção como colecionador de trilhas, só tinha um disco lançado no Brasil. Meses depois dessa devastadora descoberta, entrei no lendário Museu do Disco e comprei a trilha importada.
Os anos passaram, fizeram outros filmes com o Kal-El. Brandon Routh até se esforçou em Superman – O Retorno e Henry Cavill não decepciona em sua versão do século 21. Mas ver Christopher Reeve mudando sua tímida personalidade para estufar o peito e voar para salvar vidas é uma experiência fantástica.
Experiência essa que vou repetir a partir de hoje (a Warner relança Super-Homem – O Filme em 26/9 em versão 4K), ao voltar no tempo para rever no cinema um dos grandes filmes de super-herói de todos os tempos. Para o alto e avante…

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